sábado, 7 de agosto de 2010

O SUSTO DO BELO ANJO

Gibson Machado e Maria da Conceição - O Belo Anjo
Sempre que falamos sobre cultura, sua preservação, sua valorização, o assunto se torna repetitivo, e, algumas vezes, inibe certas discussões em torno do tema.
Tenho falado frequentemente a respeito do cuidado que precisamos ter para manter preservadas as tradições de nossa gente e, de certa forma, proteger os patrimônios, sejam material ou imaterial, não importa, é preciso fazer alguma coisa, porque os mestres estão morrendo e não têm como passar seus conhecimentos para as futuras gerações.
O trabalho que faço na tentativa de, pelo menos, registrar as manifestações populares e as memórias dos anciões, guardiões de nossa história, é muito fragilizado, pois é impossível realizar as pesquisas e fazer os devidos registros, uma vez que o custo é alto e o tempo não é suficiente.
É necessário que o poder público tome alguma atitude nesse sentido, enquanto ainda restam, alguns mestres de nossa cultura popular, vivos e em condições de repassar seus conhecimentos.
Eu sei que há muitas dificuldades para a administração, mas, provavelmente, se todos os poderes públicos se unissem, seria possível encontrar soluções para esta grave situação.
Segunda-feira, 02 de agosto, a matriarca da família Brito, Dona Maria da Conceição de Brito, 96 anos, deu o maior susto nos familiares quando teve uma indisposição. Na idade que ela está qualquer problema de saúde, é muito preocupante. Dona Maria é avó de Neto, coordenador do grupo Renovação, e sempre esteve envolvida com a cultura popular do município, Ultimamente, era a personagem “Belo Anjo” do Pastoril, cuja mestra era Dona Maria do Carmo, que por sinal, mudou-se da cidade porque não encontrava apoio para continuar brincando com suas pastoras.
A última apresentação de Dona Maria da Conceição – O Belo Anjo do Pastoril - foi em 2007 quando nos apresentamos no Centro Esportivo e Cultural durante o encontro do Projeto Vida Nova, criado por mim e voltado para a terceira idade. Penso que aquela foi sua última apresentação no grupo e felizmente filmamos e fotografamos todos os eventos.

Pastoril - apresentação no Vida Nova

É por isso que são necessárias ações de governo que revitalizem, preservem e protejam esses mestres da cultura popular, pois, são evidentes suas fragilidades e, enquanto é tempo, precisamos fazê-los repassar seus conhecimentos às novas e futuras gerações, uma vez que já estamos lutando contra o avançado estágio de vida dos mestres, a exemplo de Dona Maria da Conceição, Zé Baracho, Luiz de Julia, Cícero Américo (palhaço do pastoril) e tantos outros anônimos que precisam ser descobertos e protegidos do esquecimento.


Cícero Américo - Palhaço do Pastoril

Tenho Saudade do Pastoril de Dona Maria do Carmo. Estivemos juntos em várias apresentações aqui em Ceará-Mirim e em outras cidades do estado. Parece que estou vendo sua emoção quando a levei para gravar as músicas do brinquedo no estúdio. Ela estava muito feliz porque sabia que todo seu esforço estava gravado e ela poderia morrer tranquila, pois, pelo menos, o registro das músicas estava garantido.

Mestra Maria do Carmo e Gibson Machado

Infelizmente o Pastoril conduzido pela família Américo está desativado e restam algumas pastoras que resistem e estão tentando manter a dança folclórica com as músicas gravadas por mim em estúdio. Espero que o grupo coordenado pelo professor Renato Brandão tenha êxito para manter-se em atividade e estarei sempre disposto a contribuir para que nossas pastoras e brincantes se mantenham vivos.

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