terça-feira, 2 de agosto de 2011

ESTÓRIAS, LENDAS E TRADIÇÕES DE CEARÁ-MIRIM

ESTÓRIAS, LENDAS E TRADIÇÕES DE CEARÁ-MIRIM
Antônio Sérgio Medeiros da Silveira
XILOGRAVURA 1/20 LENDAS Gibson Machado Alves
Entre todos os povos, as lendas formam a tradição viva do pensamento primitivo. Constituem a base dos contos populares, são transmitidas oralmente e conservadas pelo costume. Elas crescem com os conhecimentos diários e se incorporam à vida cotidiana.
Em Ceará-Mirim, esse patrimônio de tradições é fruto de inúmeras estórias cultuadas por gerações e gerações. Refletem o desenvolvimento sócio-econômico e cultural de seu povo e se vinculam ao florescer da atividade agro-açucareira no vale. São relatos contados nas dependências dos velhos engenhos. Com o passar do tempo, foram sendo adoçados e se transformando noutros, misturando-se a elementos que expressam a formação étnica de seu povo.
Narram os antigos que em um dos engenhos se cometiam perversidades tais que causavam repulsa até mesmo aos outros proprietários do vale. Eram episódios que manchavam de vergonha, tamanha a sua crueldade, mesmo numa época em que era comum a aplicação de castigos físicos aos escravos. Tais castigos, para alguns, se assemelhavam ao próprio inferno vivenciado na terra.
Dizem que num túmulo do cemitério velho de Ceará-Mirim vive uma gigantesca serpente, que seria a personificação da antiga senhora desse engenho. Trata-se da lenda da mulher que virou serpente. Falecida repentinamente, como forma de tocar o coração do seu esposo e a pedido dos deuses, seu corpo teria se transformado numa grande serpente que devia ser contida. Seu túmulo foi concretado e acorrentado devido às grandes rachaduras ali surgidas.
Para os dogmas cristãos, essa transformação traduz a incessante luta entre o Bem e o Mal. Nos livros do Gênesis e de Isaías o Mal é textualmente chamado de Serpentem Tortuosum. Ele age em forma de serpente, representando as forças subterrâneas, misteriosas e identificadas como sendo o espírito das trevas. Por outro lado, essa manifestação reproduz o pecado original com todas as suas desastrosas conseqüências: o Tentador, a Tentação, a Queda e o Castigo, como se refere a Bíblia: Callidis Simum Omnium Animatium.
O senhor desse engenho exigia de seus escravos cega obediência e eles faziam de tudo para servi-lo. Segundo Madalena Antunes, no seu livro de memórias, Oiteiro, “quem tinha negro ruim, vendia ao dono daquele engenho ou, quando muito, uma simples ameaça era o suficiente para o infeliz, amedrontado, logo melhorar a conduta”.
Conta-se, ainda, que até os animais reclamavam dos abusos ali praticados. Das estórias narradas, uma se faz presente no cotidiano popular: “o boi que teria falado”. Num certo dia, como noutro qualquer naquele engenho, cansado da lida, um boi teria exclamado: “Não é possível que nem na sexta-feira santa se descanse nessa propriedade”.
Também faz parte do imaginário popular de Ceará-Mirim a estória da baleia que estaria dormindo num gigantesco berço posto em baixo do altar-mor da matriz. Conta-se que, após uma salutar disputa entre Santa Águeda e Nossa Senhora da Conceição, pela escolha da Padroeira da Cidade, Santa Águeda, derrotada, teria invocado a Deus que aprisionasse aquele animal, libertando-o somente quando as águas do Rio Ceará-Mirim banhassem a calçada da Matriz.
A lenda da Cabaça é outra narração que faz parte da imaginação popular, sendo alimentada pela existência de um grande rio subterrâneo que corta a cidade de ponta a ponta. Segundo os moradores do município, ao se mergulhar um porongo no Rio do Mudo, na Jacoca, ele é levado pelas águas, surgindo no Olheiro Pedro II, próximo à estação ferroviária da cidade. Conta-se que esse rio é a fonte principal a alimentar os olhos dágua do município.

Fonte: Ceará-Mirim tradição, engenho e arte - UFRN/SEBRAE/Prefeitura de Ceará-Mirim - 2005.

5 comentários:

  1. GIBSON, VOLTEI À MINHA VELHA INFÂNCIA, QUANDO EU ESCUTAVA OS MAIS VELHOS FALAREM SOBRE ESSAS LENDAS, PRINCIPALMENTE A DA BALEIA E DA SERPENTE NO CEMITÉRIO! RISOS... QUANDO CRIANÇA, ESTUDAVA NA ESCOLA BARÃO DE CEARÁ-MIRIM E LEMBRO-ME QUE, ALGUMAS VEZES, JUNTAMENTE COM AMIGAS QUE ESTUDAVAM COMIGO, PARÁVAMOS NA CALÇADA DA IGREJA, COLÁVAMOS O OUVIDO NA CALÇADA PARA TENTAR OUVIR O SOM DA BALEIA! KKKKKKKKKKKKKK... AGORA SORRIO-ME DISTO, MAS NA ÉPOCA, ACREDITAVA QUE REALMENTE HAVIA UMA BALEIA! E QUANTO A ESTÓRIA DA SERPENTE, OUVI MINHA SAUDOSA MÃE FALAR, QUANDO BRINCÁVAMOS DE "REMANDIA, REMANDIA, MAMÃE DISSE QUE FOSSE ATÉ O PORTÃO DO CEMITÉRIO, TOCASSE NO PORTÃO E VOLTASSE. O ÚLTIMO QUE CHEGAR LEVA UMA CHINELADA E TENHAM CUIDADO COM A SERPENTE, VIU!". EU, COMO ERA A MAIS PEQUENA DE TODOS, MORRENDO DE MEDO, NEM ENCONSTAVA NO PORTÃO, VOLTAVA NA METADE DO CAMINHO... E SEMPRE LEVAVA UMA CHINELADA! RISOS... FALO ISSO, PORQUE COMO SABES, A NOSSA CASA FICA AO LADO DO ABRIGO, ONDE HOJE MORA MEU MANO MARIGILDO. SÃO BONS MOMENTOS QUE JAMAIS ESQUEÇO! HOJE EM DIA, AS CRIANÇAS JÁ NÃO BRINCAM DESTA FORMA! BRINCAM COM COISAS ELETRÔNICAS, MAIS MODERNAS... É O PROCESSO DA EVOLUÇÃO QUE VAI MATANDO NOSSA HISTÓRIA. COMO VOCÊ CITOU NO FINAL DA CRÔNICA DO EDGAR BARBOSA AQUI: "Um dia procuraremos nossas raízes e perceberemos que o dia amanheceu cinza..." TENS TODA RAZÃO, AMIGO! UM GRANDE ABRAÇO, DO ALÉM-MAR...

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  2. O Cearaá Significa

    Verde: As Matas

    Amarelo:As Riquesas

    Farol,Jangada,Carnauba:Ordem e Fprtaleza Ceará é o estrativismo Vegetal

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  3. Nunca me esqueci das histórias que rondavam sobre o dragão que estava debaixo da matriz nossa senhora da conceição, o papa figo e etc. que época.

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  4. Estava procurando... Muito agradecido.Intetessante que existem lendas parecidas em outras cidades brasileiro, como se o consciente coletivo de uma época plasmace em histórias em lugares distintos o mesmo imaginário.

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